Terça-feira, 4 de Outubro de 2011

um olhar no mnaa

 

 

Havia sido ela quem me salvara de uma morte que todos consideraram certa. Retirou-me das ondas onde, exausto e desfalecido, me supusera disposto a descer à última paragem. Cuidou de mim, ela, dias a fio. As suas mãos, obreiras como abelhas, leves como véus, aliviaram-me o sangue, limparam-me a pele e venceram-me a febre. E tudo isto ela fez em segredo, por estar condenada a um esponsal imposto por seu pai. Escondeu a sua identidade por trás de um nome tão falso como cativante. Enamorou-se de mim quase tanto como eu dela. Regressado aos vivos pelas mãos desse amor, fui forçado, semanas depois, a regressar, sim, sem ela, para junto do meu Senhor, a quem jurei, como meu pai, fidelidade. Regressei em glória, vindo dos mortos, para o abraço aliviado do meu amo, que me enfeitou de honras. Sonhei infindas noites em voltar para ela. Senti-la em mim. E, entanto, nas voltas cruéis e impossíveis da vida, um acordo entre reis entregou a meu Senhor, a mão dela. Precisamente a dela. De todas as mãos de mulher, as dela. 

 

Hoje vivo neste estado. Neste silêncio obrigado. Guardo o seu retrato escondido junto ao peito. Um peito, dividido entre o meu amor por um Senhor a quem a vida me entregou e o meu amor por uma Senhora a quem entreguei a minha vida. Para sempre

publicado por Rui Correia às 21:08
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De Mena a 7 de Outubro de 2011 às 18:40
Lindo!
Bj
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