Será possível que alguém na direcção de uma escola se dê ao trabalho de interromper o que faz, ou o que devia estar a fazer, e telefonar internamente a exigir que alguns alunos CEF sejam conduzidos para fora da sala de professores, onde entraram com permissão dos seus professores, para que assistissem juntos ao que se revelou um histórico jogo entre Portugal e a Coreia do Norte (o que eu faria para poder ter visto o de 1966)?
Que pode alguém ganhar com isto? Como pode alguém ter tanto empenho em desautorizar os seus colegas, por permitirem que os alunos que conhecem como a palma das suas mãos, tenham um acesso pontual, excepcional à sala de professores?
Compreendo que nem todos os professores se sintam queridos ou sequer visíveis quando vão à sala de professores. Mas, muitas vezes mais até do que este ou aquele professor, os alunos serão sempre ali queridos e reconhecidos. Uma vez que nada disso vem expresso em regulamento interno, que mesquinhez é necessária para perder tempo com isto?
Como podemos nós esquecer-nos que tantos professores ali deixaram entrar, durante anos, os seus próprios filhos, sem que alguém tivesse o descaramento, o despropósito de levantar qualquer objecção? Quanta desfaçatez é necessária para exigir aos outros o oposto daquilo que nós próprios praticámos durante anos?
Como se pode achar por bem impedir que estes alunos CEF ali possam entrar pontualmente, esses mesmos cuja integração é mais exigente, alunos que, para mais, todo o ano ali entram para ter com os professores gestos de cortesia, de indiscutível valor pedagógico.
Em todo o caso, uma vez que parece que nasceu um insólito interesse em impedir que a miudagem possa entrar na sala de professores, não posso deixar de apresentar uma declaração de interesses. Envergonhado, confesso publicamente que a minha filha conseguiu penetrar na sala de professores há uns dias, onde permaneceu por mais de vinte minutos. Pai arrependido, em seu benefício devo acrescentar que a coitadinha foi obrigada a entrar em tão inexpugnável enclave porque ainda não sabe caminhar sozinha. Acresce a agravante de ter sido eu quem a levou ao colo. Em abono da verdade, devo acrescentar que não fui o único a segurar a criança.
E, perdoe-me um grande amigo que aqui traio sem renitências, a minha filhinha não foi a única a entrar no templo. Um outro elemento indesejável chamado Diogo também profanou o local.
Resumindo e concluindo, digo-vos muito a sério: que vergonha, que descaramento, que inominável tudo isto é.