Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009

madrepérolas

 

Foi com estranheza que me foi comunicado ter sido incluído num ponto da ordem de trabalhos do Conselho Geral Transitório do Agrupamento de Escolas de Sto Onofre a análise de um texto que escrevi neste meu blog particular. Do que me foi dado a perceber pelos representantes desse órgão, que comigo quiseram conversar, ficou claro que algumas das afirmações patentes no referido texto são do desagrado dos membros deste órgão. Gostaria de referir que muito lamento esse desagrado uma vez que, sendo este blog um exercício pessoal de reflexão cívica, cultural e literária, e na maior parte dos casos, com uma importância infeliz e absolutamente irrelevante, preferiria que os eventuais e sacrificados leitores dos meus textos gostassem deles em vez de não gostarem deles.
Contudo, não sei como deixar de recordar que este espaço de opinião é produto da minha condição de cidadão e não da minha condição de professor. Todas as reflexões que aqui se apresentam e que vão desde o conceito de isegoria na democracia virtual de Leo Scheer às incrustações em madrepérola do último modelo das guitarras Sadowsky, representam pareceres estritamente individuais assumidos pelo cidadão Rui Correia e não se confundem, nem podem confundir-se, com o desempenho profissional do professor Rui Correia.
Deste modo, como se pode perceber pela leitura das suas competências legais, não se inscreve na jurisdição, já de si restrita e efémera, de um Conselho Geral Transitório constranger ou enaltecer aquilo que pode ou deve escrever alguém no livre usufruto dos seus direitos de cidadania e na constitucional expressão das suas ideias. Para o fazer, existem outros órgãos legalmente constituídos para o efeito.
Mas, reitero-o, não sou insensível ao facto de os meus textos poderem susceptibilizar interesses que preferem que eu não escreva o que escrevo e como escrevo. Mais sensível sou ainda ao facto da iniciativa desta “análise”, cujo teor em acta não me foi facultado pela Sra. Presidente do Conselho Geral Transitório e que por isso desconheço, ser oriunda da representação da associação de pais e encarregados de educação deste agrupamento.
Queria, assim, pela importância que confiro há muitos anos ao associativismo cívico, nomeadamente esta associação cuja constituição apoiei e cujo primeiro website tive o gosto de construir e colocar online, e apenas por isto, dar uma satisfação. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que uma escola não pode chegar a Dezembro sem que os seus alunos tenham aulas de substituição quando um professor falta, como acontece em todas as outras escolas do país. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que uma escola não pode chegar a Dezembro sem que os seus alunos tenham um sistema de registo de faltas, qualquer que ele seja, nem que esse sistema volte a ser como era, nos anos 80, um sistema burocrático, em papel milimétrico, com cruzinhas feitas à mão. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que uma escola não pode chegar a Dezembro sem que as informações facultadas aos encarregados de educação possam ser registadas num documento informático que permita garantir aos encarregados de educação que aquilo que foi dito nos seus encontros com os directores de turma, fica segura e confidencialmente exarado. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de saber que não faz parte da história e da cultura desta escola permitir que alguns partidos políticos entrem no perímetro escolar para distribuir propaganda eleitoral. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de saber que não faz parte da história e da cultura desta escola exonerar do Conselho Pedagógico, sem quaisquer explicações, nem sequer uma elementar comunicação, alguns dos membros mais reconhecidamente dedicados à escola, apenas porque as suas vozes se recusam a louvar o rumo que esta gestão vem seguindo. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que uma escola não deve iniciar o seu ano lectivo sem que se convoquem conselhos de turma para estudar cada aluno e as características de cada turma, permitir que se conheçam os professores que vão leccionar essa turma e dessa forma preparar o planeamento de todas as actividades lectivas, nomeadamente as interdisciplinares, como acontece em todas as outras escolas. O que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que esta escola não pode chegar a Dezembro sem que os seus alunos tenham a funcionar um sistema de verificação eficiente, electrónico, de entradas e saídas de alunos, que tanto custou à associação de pais desta escola ajudar a comprar, a instalar e a manter.
Enfim, encurtando razões, o que escrevi no meu texto tem a ver com o facto de achar que esta escola se desvia tão completamente do rumo que fez dela em tempos uma escola de referência e onde todos, sem excepção, pais, alunos, professores e auxiliares viveram épocas inesquecíveis de dádiva e dedicação, que me custa, simples e fisicamente, conhecer tanta desorientação e nada dizer. Gostaria de recordar que todos sabem que foi sempre essa a minha conduta nesta escola perante anteriores conselhos executivos, com quem sempre mantive e continuo a manter as melhores relações pessoais.
É precisamente porque acredito num modelo de gestão democrático que faz o que é preciso fazer numa escola, em vez de se ocupar a esconjurar pessoas e a analisar opiniões em blogs; é porque me não identifico, coisa privada e absolutamente legítima a qualquer membro da comunidade educativa, com o caminho que tem sido protagonizado nos últimos meses justamente pela pessoa que o Conselho Geral Transitório decidiu eleger para o próximo quadriénio como director do Agrupamento de Escolas de Sto Onofre, que gostaria de terminar com a seguinte participação:
agradeço muito o tempo que um texto meu vos tomou, ainda que pelas piores razões, e porque também me vou sentido, à semelhança de muitos amigos meus, completamente desmotivado e distante em relação ao actual rumo que a gestão pedagógica desta escola vem assumindo; porque acredito que todas as pessoas merecem sempre uma segunda oportunidade; mas sobretudo porque não me disponho a permitir que as minhas opiniões se transformem em álibis expiatórios de ninguém, informo que, doravante, reduzirei ao absoluto mínimo todas as considerações opinativas relativas ao Agrupamento de Escolas de Sto. Onofre, desejando aos seus alunos, minhas âncoras, sempre na intocável qualidade de cidadão, o mais brilhante futuro que, nestas circunstâncias, lhes seja possível conquistar.
publicado por Rui Correia às 19:31
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De Isabel a 15 de Dezembro de 2009 às 00:04
Não resisto a colocar aqui, em especial para a professora que não se identifica, este magnífico texto de Mário Crespo. Se calhar o Sócrates vai dar murros na mesa.... e dizer: Não quero mais este jornalista na televisão!


O palhaço
00h30m
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço.
De Ljleitao a 15 de Dezembro de 2009 às 00:29
Tem toda a razão, Isabel, embora o texto não seja seu... nem eu diria melhor. O problema é que o palhaço aqui é outro, ainda que do mesmo partido.
De Rui a 15 de Dezembro de 2009 às 01:09
Isabel: o palhaço aqui sou eu. Não posso concordar mais.
De Redes a 15 de Dezembro de 2009 às 01:52
"Não posso concordar mais". O quê? Deixas de concordar? Começas a discordar?
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