Hoje, durante uma das vigésimas quintas horas do meu dia, fui interrompido por duas lágrimas de um gaiato de oito anos em pijama, que me chorou estar a ter um pesadelo. Uma das lágrimas já ia no queixo. A outra tinha acabado de sair. Embargada a obra em que estava a mourejar, abracei-o e senti que todo ele se depositou em mim. Um tal "monstro do armário" tinha visitado os medos do meu rapaz. Depois de tentar mentir-lhe que os monstros existem pouco e que tudo está bem, mendigou que me deitasse com ele. Sorri. Fomos, primeiro, confirmar as roupas penduradas do armário e deitámo-nos. Estive assim uma hora. Uma boa hora. Adormeci. Quando despertei junto a um sono infantil, plácido e manso, deu-me para chorar. Caídas na almofada que dividimos, deixei ali duas lágrimas ridentes, atalaias do seu repouso. Duas sentinelas em vigia de uma felicidade pequenina, mas absolutamente acabada.
De frangipani a 14 de Maio de 2004 às 16:28
Beleza e comoção no lugar da vigia.
Quem diria?
Do lado da verdadeira beleza,
Estará sempre a ideia de vagareza.
As maiúsculas indicam o início de cada uma das 4 frases.
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