Por esta altura, começam as monções na Índia. As chuvas desabam de Norte para Sul com a violência de uma vingança elaborada. Setembro tudo tempera. Nenhum europeu conheceu as monções melhor que nós. Nem mesmo os ingleses, que deportavam como podiam a sua Albion para lá, como para qualquer outro lugar, afinal. Nunca tentes falar a língua deles, ensinavam. Rir-se-ão de ti e do teu mando. Nada nos prende à Índia. Tudo nos atira ao Índico. Só a quintalada, a fortuna esse infortúnio - sanciona tal desterro. Não esqueças. Nada nos livra tanto da miséria como viver à sua custa. A Índia é cor, caos, calor e calos.
É dali, de novo, da Índia, dos Trópicos, que nos chegou esta semana uma invulgar lição da dignitas latina. Autoridade honesta que merece homenagens, honrarias e respeito, como a definiu Cícero, no seu Da Invenção. Num mundo de falcoeiros inquietos é tão inspirador como excepcional que alguém ainda aceite abdicar do poder apenas por severidade da sua honra. A falta que um oriente faz a um mundo desorientado é a mesma que a água faz à boca de um deserto. Com a monção de Junho chove em Meghalaya, no sudeste indiano, como em mais nenhum lugar da terra. Admiranda lição para estes dias em que a sensatez parece ter-se convertido numa ciência oculta.
Pés na terra aos homens de boa vontade.
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À memória de Rajiv Gandhi, um homem limpo e pacífico que foi também primeiro ministro indiano, assassinado aos 46 anos por uma bomba colocada num cesto de flores por um radical Tamil. O atentado ocorreu a 21 de Maio de 1991, faz hoje exactamente 13 anos.