Escrevo isto em plena dor. Retirou-se da minha convivência um amigo. Pintor e amante da poesia, duas medidas da mesma coragem. Um artista, na acepção inteira da palavra. Disse-lhe muitas vezes da minha admiração por si. Anunciei a sua arte sempre que ele mo permitia. Fi-lo muitas vezes porque, quando o fiz, havia sempre uma nova razão para o fazer. Sempre rimos. Rimos, ainda há dias, a propósito de uma lebre e de um coelho que era, aliás, um gato. Far-me-á falta fazê-lo rir. O seu sorriso transformava-lhe o rosto todo de uma tal maneira que foi sempre, para mim, uma autorização de amizade.
Estou, estamos todos, muito mais sozinhos. Queiramo-nos bem uns aos outros. Nada mais nos é pedido nesta guerra civil que são os dias. É pedir muito, sim. Por isso é que vale a pena; uma enorme pena.
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PS. Morreu hoje a Ilse Losa. Dela disse assim a Agustina Bessa Luís:
"Não é uma falta para mim, tenho-a muito presente na minha vida."