Quarta-feira, 4 de Abril de 2007

P_Rhinoceros_Kasahara_Happy.jpg


Senti imensa falta de uma máquina fotográfica. Recentemente contratada, a senhora da limpeza passava um pano do pó pelo lombo de uma réplica de rinoceronte em tamanho natural que os designers acharam por bem colocar para ali. Tinha deixado o carro num estacionamento espaçoso e livre. Os bilhetes podem ser reservados previamente. Tudo cheira a novo. É o cinemacity, o mais novo espaço de cinema de Leiria. Vale a pena porque tem salas temáticas. Um hall ufano e vaidoso como eu acho que um cinema deve ter. Acompanham-me gentilmente ao lugar. Ao entrar na sala dou de caras com um ecrã enorme. Um som excelente. Lugares muito confortáveis. Dois ou três trailers, para atiçar ao regresso ao empreendimento. Começa a música do Castello Lopes. Brinco que aquele é que devia ser o meu toque de telemóvel. Pronto. Vai começar. O filme é o “Diary of a scandal” com duas actrizes de quem não é humano não gostar. Judi Dench e Cate Blanchett. Péssimo. O filme é péssimo. É verdade que três segundos depois de vermos as actrizes deixamos logo de nos lembrar quem são. É verdade que o filme adquire imediatamente uma intensidade que as duas actrizes sabem como impor. É verdade que as cenas entre uma e outra são incrivelmente veementes e constrangedoras. E é verdade, enfim, que o melhor piloto precisa de um bom motor para chegar primeiro. Ali, falta tudo. Péssimo. Aí vai: a rapariguinha (Blanchett) tem uma vida densa, amorável e nobre. Professora de artes, acaba por envolver-se sexualmente com um rapazinho de 15 anos, seu aluno, todo cockney e sardento. Dench, que faz de velha professora, descobre. Quer muito tê-la por amiga para esconder a sua azeda e idosa virgindade. É lésbica, aliás, e quer carne fresca. A professora nova e gira também gosta de carninha fresca mas do sexo errado. A velha reage e depois de um ou dois disparates decide abrir a caixa de Pandora e, num ápice, o boato passa a escândalo nacional. Logo, logo, a professorinha vai para casa da Dame lésbica e descobre que esta guarda uns diários onde cinicamente foi conduzindo o evoluir daquela relação. Desesperada, a professorinha regressa a sua casa onde o marido – outro maravilhoso actor que conhecemos de outras andanças – a aceita ternamente de volta. O filme termina com a senhora lésbica num parque a insinuar-se sobre outra rapariguinha. Mais carninha fresca, portanto.

Deste filme retira-se o quê? Que dar aulas é um flagelo insignificante que consistentemente orienta qualquer ser vivo para uma segura frustração negligente. Não vi neste filme um único professor minimamente satisfeito com alguma coisa; nada de escolar, aliás, existe neste filme. O realizador tem uma imagem completíssimamente estereotipada da escola. Deve ter crescido a ouvir Pink Floyd. Chega a ser boçal. Nada mais se retira daqui. Podia estudar-se o que leva uma professora a envolver-se com rapazinhos? Isso seria interessante. Nada. Podia estudar-se o lugar de uma lésbica num espaço de imposição moral como a escola pode também ser. Nada. Podia estudar-se o drama que um devaneio sexy destes traz a uma família absolutamente feliz. Nada. Tudo é tratado com uma superficialidade que é o mesmo que absolutamente nada. Pelo menos, nada que eu tenha visto. Quando se remexem as cinzas, fica-nos um thriller de terceira categoria onde nada é aproveitado. Conservador, mesmo bota-de-elástico, este filme é absolutamente irrelevante. Como um professor inútil. Já o sabemos desde há muitos livros atrás: todo o artista sem ideias acaba moralista; conclusão: ainda bem que o realizador não dá aulas. É de fugir a sete pés. É mesmo o mais irrelevante filme que vi nos últimos anos. Tem lá duas actrizes dentro. Lindas. Quando cheguei a casa estava a dar o “Sete noivas para sete irmãos”. É tão bom.

Pronto. Já desabafei. Ficou limpinho o rinoceronte.
publicado por Rui Correia às 14:29
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1 comentário:
De Nuno Marques a 8 de Abril de 2007 às 01:32
Muito " another brick in the wall" ouviu esse senhor de certesa , que filme com tantas ideias misturadas e nada para aproveitar, até porque plo meio hava ai umas certas ideias de falso mralismo que devia ser proibido na sétima arte, felismente existem bon realizadores queaproveitam real talento dos artistas

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