Caros amigos
Em virtude de me ter comprometido com uma candidatura, como independente, a um novo momento de intervenção cívica em que terei outras responsabilidades, concluí que não faz sentido procurar conciliar essa aventura com este meu espaço de intervenção pública, por razões que, até, eticamente se me impõem. Informo assim que irei suspender até um dia a dinamização deste nosso "postal" - um verbário que é uma plantação de posts - que de 2004 a 2012 me trouxe numerosos frutos e flores de júbilo e de desafio.
Pelos vossos milhares de comentários e consideração estar-vos-ei sempre muito obrigado.
Sobre o meu querido Olímpio. Cinco anos. Parece que foi hoje. Não consigo apagá-lo dos meus contactos. Hei-de cumprimentá-lo sempre dessa forma. E ele a mim.
Estava eu em plena instrução militar sobre guerra bioquímica quando nos deram a todos um kit de sobrevivência. O tenente responsável pela instrução acabara de o apresentar e de o explicar. Era coisa mesmo intensa: incluía uma seringa já cheia de um antídoto genérico que deveria ser auto injectado na coxa o mais rapidamente possível após a deflagração de projécteis tóxicos. Silêncio geral. Nada mais cool.
Era um saco forte transparente a embrulhar um outro saco de cor verde azeitona, que por sua vez, envolvia o kit, tudo devidamente selado e datado. Era americano, fornecido ao exército português. Através do saco transparente podia ler-se as informações de utilização, em inglês. Nunca me esqueci da primeira:
“1 - rip the transparent bag” – rasgue o saco transparente.
Vejamos: sou da infantaria. Explode um petardo químico ao meu lado. Imagino que numa situação em que acaba de explodir um petardo tóxico ao nosso lado possamos estar todos em stress. Ágil e imediatamente, pego no meu saco antiquímico. Que fazer agora? A ideia pela qual seja necessário explicar que é necessário rasgar o saco transparente que envolve o kit, é realmente qualquer coisa de... infantil. Em que situação, pergunto-me, sabendo que aquele kit pode salvar-me a vida, eu iria perder tempo a interrogar-me: "Que hei-de eu fazer com este saco que tem cá dentro tudo o que preciso para salvar a vida? Como aceder ao seu interior? É que o saco está selado e não tem aberturas. Se não tiver nas mãos o que o saco tem lá dentro, irei morrer. Por que não fizeram umas aberturas neste saco de plástico para que eu pudesse ter na minha mão o que o saco tem lá dentro?"
Também há aquele poema do Bertold Brecht que diz que eu sou um idiota. Sempre o tomei pessoalmente, à letra.
Hoje, sozinho em casa, fui experimentar aquecer uma lasanha pré-feita no forno. Fui ler as instruções para forno tradicional. “Retirar a folha que cobre a forma transparente e retirar a forma preta”. Retirei a película transparente e a forma preta onde vinha a lasanha. Fiquei com a lasanha congelada nas mãos e continuei a ler: “Em seguida, aquecer a forma preta”.
Invadiu-me um retemperador contentamento. Não sou o único idiota deste mundo.
Com um allmighty Celtic a vencer sobre o allmighty Barcelona e uma allmighty Académica a vencer um allmighty Atlético de Madrid, esta teria sido uma boa semana para ser um apostador fanático.
Nem sempre temos a oportunidade de ver pessoas que realmente nos envolvem pela cultura, sagacidade, coragem e inteligência cívica. Passou por Portugal uma delas, num colóquio recente sobre o holocausto e Portugal, onde me inscrevera mas não pude participar por importâncias maiores. Chama-se Deborah Lipstadt e é especialista de renome mundial do estudo sobre o negacionismo - melhor: a ilegitimidade intelectual do negacionismo - que deixou por cá uma palestra absolutamente de nível estratosférico e que pude seguir em directo a partir de casa através do live feed da Fundação Calouste Gulbenkian. (Como de costume, nem uma linha mediática sobre a sua presença).
Vale completamente a pena assistir a essa sua comunicação que muito vos recomendo pelo que tem de pragmaticamente erudito, interventivo e humorado, tudo coisas que me cativam até à medula.
Aqui.
(ou como diria a minha sempi(n)terna Joni Mitchell: "girls that really play")
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Sou benfiquista pela única razão possível por que alguém é do Benfica: porque sim. Mas não em Voleibol. Aí sou caldense de gema, clara e casca. Hoje perdemos. Mas nem sempre ganhar é o que mais importa. Pelo menos não por enquanto. Viva o voleibol das Caldas e um grande - não único - motivo de orgulho desportivo deste concelho.
Três mil, duzentos e dez gramas de sereníssima majestade.
Sou um tipo livre. Aparecer em jornais limita-me essa alforria. Mas permite-me contar histórias que é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Há quem fique em bicos de pés quando estas coisas publicadas acontecem. Não critico ninguém por isso. Apenas sei que existe uma forma de perceber a irrelevância social destas publicidades: a minha filha a pedir-me para ser o seu burro. Nada como ter as ferraduras bem assentes no chão.
Controverso mas não polémico, Simon Schama é, com possibilidade de errar, o mais conhecido historiador inglês. Contesta-se-lhe o interseccionismo histórico que lhe permite vaguear entre épocas incomparáveis e deambular entre a micro e a macro história sem o menor pudor. Há quem chame a isto irresponsabilidade metodológica e depois há aqueles que, como eu, gostam de tudo isso. Pelo que este discurso necessariamente tem de adogmático e, por isso apenas, de humanista.
Mas não apenas por isso. Porque o distanciamento histórico, esse mito, pressupõe a possibilidade de elaborar discursos desprovidos da tentação ideológica ou, mais incredível ainda, egocêntrica. Petulâncias de grandeza, acredito-o. Schama tenta capturar a narrativa histórica em tempo real. O ontem, aqui e agora, como se apenas isso, o presente, importasse. E creio ser essa a principal razão da minha atracção antiga por esta abordagem. Pela história, de resto.
Porque sempre desconfiei daquela frase, sentença mesmo, que se aprende nos bancos de escola e que nos adverte que o passado serve para explicar o presente. Tive sempre para mim que a coisa funciona ao contrário. Mais do que ser o passado a explicar o presente, é o presente que explica o passado. Nenhuma narrativa sobre o passado é possível sem a constrição produtora do que sabemos sobre o presente. Só a partir da nossa experiência é que olhamos o passado. Todo o verbo no passado é conjugado no presente. Daí se parte.
Daí a invulnerável falibilidade do passado. Creio que o mais que podemos almejar em matéria de conhecimento histórico é o de não defraudar o presente e depauperar tudo quanto somos presencialmente na averiguação de tudo quanto nos antecede. O documentário - resultado de um livro - "O futuro da América", que ontem passou na sempre honrosa e nem sempre maçadora rtp2, representa bem este virtuosismo narrativo entre épocas históricas e dimensões historiográficas de Simon Schama.
Mas a linguagem, senhores... A qualidade imaginativa e criadora da linguagem do historiador é um prazer absoluto. A rendição à comoção desdramatizada, avessa ao pathos mas com o humor e a gravidade solene que devem ter-se quando falamos de coisas realmente sérias da vida. Perspicácia vivaz e documentação criteriosa tornam este trabalho um exercício de limpeza metodológica e de indesmentível serventia intelectual. Um prazer acessível a todos.
Há 150 mil euros para gastarmos no que quisermos. Dia 26 de Outubro, esta Sexta-feira, pelas 21h00m no auditório da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, os munícipes vão poder propor obras no valor de até 150 mil euros para serem... feitas.
tudo é possível propor.
Esta é a primeira edição nas Caldas da Rainha e resulta de uma contenda intensa que levou anos até aqui chegar. Há quem deseje que este processo não resulte, para que com isso se prove que o Orçamento Participativo nas Caldas da Rainha não diz nada a ninguém.
Cumpre participar na próxima Sexta-feira com um projecto comunitário que seja, pela primeira vez, da autoria dos próprios cidadãos e não apenas dos políticos.
Participe.
Venha apresentar a sua visão para a sua rua, a sua comunidade, o seu bairro, a sua terra, a sua cidade, o seu concelho.
Num congresso recente chamei a este governo de Passos Coelho, o governo da pílula do dia seguinte. Funciona assim: hoje digo ou faço uma coisa e amanhã explico o que não queria nem dizer nem fazer. Depois nem digo , nem faço. Desta vez chega-se ao ponto boçal de explicar para que serve a tarifa bi-horária. Aqui. ufa.
PS. Afinal a RTP2 não acaba. Fonte do governo disse hoje que.